-Carlos, chega aqui.
O Carlos virou-se para mim e, pela cara dele, percebi logo que ainda não tinha bebido quase nada… e mesmo que tivesse, bem… nunca tinha visto ninguém com uma tolerância ao álcool tão grande como ele.
-João, my man sempre vieste!
Apertamos a mão e demos um abraço. Foquei a minha atenção na Carolina. Se lhe acontecesse alguma coisa… a Teresa nunca me perdoaria.
-Decidi dar-te ouvidos. Olha ali.
Apontei para o lado, na direção de Teresa e, Carlos, vendo-a ali à minha espera sorriu de orelha a orelha.
-Então e do que estás à espera?! Vai-te a ela!
-Preciso que me faças um favor. - apertei os seus ombros e fixei o meu olhar no seu - Cuida da Carolina enquanto falo com a Teresa. E quando digo cuida… não a deixes beber mais e nada de pôr as mãos nela ou perdê-la de vista.
-Meu, por quem me tomas? Eu sou um cavalheiro.
-Eu já reparei na maneira como olhas para a Carolina…
Retirando as minhas mãos dos seus ombros, o Carlos soterrou os seus olhos castanhos claros sob as suas sobrancelhas.
-Ok, já percebi. Mas a sério, não ia fazer isso à Carol… ela não é uma gaja qualquer.
Pois, não fazes a ela, mas fizeste a outras.
-Obrigado, fico a dever-te uma.
Dei de costas e deixei o Carlos para trás, aliviado. Sabia que podia confiar nele quando lhe pedia alguma coisa.
Tal uma boneca de porcelana, Teresa mantinha-se parada, enrolando o seu cabelo castanho escuro nos seus dedos. Um inevitável sorriso emergiu nos meus lábios.
-Já está tudo tratado. Podes confiar no Carlos, ele toma conta da Carolina por algum tempo.
-A sério?
Vi-a a espreitar a para além de mim, a sua atenção dividida entre mim e a sua amiga.
-Teresa… - o meu tom de voz era firme e ela não pôde senão focar-se em mim -Não vai acontecer nada, acredita em mim.
Teresa assentiu e foi um esforço evitar que o meu sorriso crescesse ainda mais.
-Que tal irmos até um sítio mais sossegado?
Mesmo na coberta da noite, o rosa que tingia as bochechas de Teresa via-se claramente sob a parca luminosidade das lâmpadas temporárias.
Adorável…
Queria abraçá-la ali mesmo, apertá-la nos meus braços e não a deixar ir nunca mais. Mas, não podia. Tinha de me controlar.
Enfiei ambas as mãos nos bolsos frontais das calças de ganga e disse-lhe para me seguir. Caminhando lado a lado, os dois deixados mudos pela vergonha, deixámos o centro da festa para trás. À medida que nos afastávamo-nos, mais escuro os nossos arredores se viam, a lua cheia, lentamente, tornando-se a nossa única fonte de luz.
Perfeito.
Sentei-me num banco de granito, oposto a um outro igual a este, colocado nos limites do terreno da casa dos pais de Raquel. As árvores adensadas, plantadas nas costas do banco forneciam um aroma citrino, perfumando o local agradavelmente.
Ao contrário do que desejava, Teresa sentou-se no banco à minha frente e não ao meu lado.
Durante alguns minutos continuámos calados. Até agora, as coisas tinham corrido bem, mas tinha medo de dar um passo em falso e afastá-la.
-João.
Engoli em seco quando ouvi o meu nome a sair da sua boca, a sua voz soava mais doce do que o habitual.
-Posso perguntar porque é que mudaste de ideias e vieste à festa?
-Porque é que achas que vim?
A Teresa riu-se. Circulamos de volta à mesma pergunta e percebi o que ela queria ouvir.
Parece que as minhas chances são melhores do que pensava.
-Vim por tua causa, Teresa.
Notei que os seus dedos começaram a brincar nervosamente com a bainha da sua t-shirt.
-Por minha causa? E porquê?
É agora ou nunca.
Levantei-me e caminhei até ao seu banco, sentando-me bem perto dela. Notei que Teresa não rejeitou o que fiz e isso deixou-me ainda mais seguro.
Bem, se ela me rejeitar, tenho o Verão inteiro para recuperar.
∞
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Esta short story não é representativa do contéudo, temas e estilo de prosa do livro "Até Amanhã".
Copyright © 2023 Susana Paixão Rodrigues
Todos os direitos estão reservados e protegidos por lei. Nenhuma parte desta história e texto "João e Teresa, como tudo começou... (Parte I)",poderá ser reproduzida ou transmitida sob qualquer formato ou plataforma, em excepção de autorização prévia escrita e assinada por Susana Paixão Rodrigues.
👍
Estou a gostar muito, depois de ter lido o livro e de ter adorado, é muito bom ler como tudo começou... ansiosa pela continuação