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João e Teresa, como tudo começou ... (Parte 2)

Atualizado: 17 de fev. de 2023




(POV João)


O corpo de Teresa estava praticamente colado ao meu, o calor da sua pele radiando em mim, e os seus grandes olhos de pestanas longas… Não podia olhar para ela. Tinha de me distrair. Concentrar-me num objetivo.


Temos de sair daqui.


O meu coração batia a mil. O sangue nas minhas veias galopava, deixando um formigueiro no seu rastro. Como é que o Francisco podia ter traído alguém como a Teresa?!


É doido. Só pode.


Quase no fim do relvado, traguei em seco. Praticamente em segurança, não fazia sentido continuar com Teresa entre os meus braços.


Tenho mesmo de criar coragem e dizer-lhe como me sinto…


À medida que nos aproximávamos da zona das bancadas de comida e bebidas, o número de pessoas reduzia e, a maioria, simplesmente abanava a cabeça ao ritmo da música.


-Bem…- libertei-a do meu abraço - Já chegamos. Querias vir até aqui, certo?

Teresa sorriu e senti o calor a subir à minha face.

-Sim… obrigada! Se não fosses tu acho que me tinha tornado numa panqueca!


Ri-me.


- Eu gosto de panquecas.

Os olhos de Teresa aumentaram ao ouvir o meu comentário.

E é por causa destas e outras que prefiro ficar calado.

-Eu também gosto de panquecas, mas prefiro comê-las.


Teresa riu-se baixinho.


Teresa és tão…


-Teresa!


Uma voz vagamente familiar chamou à distância. Sondei pelo idiota que arruinou o nosso momento e não me surpreendi nada quando vi quem era.


-Francisco. - O sorriso desapareceu do rosto de Teresa - Não te disse para não falares mais comigo?


Raquel… estás tão enganada.


Premi os lábios um contra o outro, numa tentativa de controlar a minha vontade emergente de sorrir.


-Precisas de falar assim comigo?


Ah! Que piada, ficou chateado.


Examinei o Francisco. Ele não era um tipo mal parecido e agora, que o estava a ver tão de perto, entendia porque é que tantas raparigas suspiravam ao avistá-lo. Ele devia ir ao ginásio diariamente, porque os bíceps e peitorais dele quase que estouravam a camisa de manga curta que vestia.


-Falar como? - Teresa endireitou-se e cruzou os braços - Não me respeitas. Pedi-te algo e não o cumpres. Ao menos, depois de tudo o que passámos, podias ter alguma consideração por mim e respeitar os meus desejos.


O Francisco olhou para mim de alto abaixo. Eu não era um homem baixo, até se podia dizer que era mais alto do que o português médio, mas o bisonte que era o Francisco deixava-me desconfortável. Se tivéssemos de lutar, penso que perderia. E a ideia não me agradava nada.


-Podemos conversar noutro sítio? Sozinhos?


O Francisco agarrou na mão da Teresa e, prontamente, ela retirou a sua mão da dele. O trejeito do rosto dela claramente expressava repreensão e nojo.


-Acho que ela não quer falar contigo e, muito menos, seguir-te para algum lado.

Desprendendo o seu olhar fixo em Teresa, Francisco virou-se para mim, a sua postura aberta e quadrada centrada na minha pessoa.


Pronto, lá vamos nós…


-E tu és quem…? - o Francisco deu um passo na minha direção - Faz-nos um favor e baza.


-Recuso-me a deixar a Teresa aqui sozinha contigo.


As narinas de Francisco expandiram. Deu um passo na minha direção, um passo tão largo que a cabeça dele ficou a um palmo da minha. Estava tão próximo que conseguia cheirar o seu bafo a álcool tão bem que sabia o que ele tinha bebido.


-Francisco, pára!


Teresa via-se pálida, os seus olhos arregalados assemelhavam-se aos de um veado prestes a ser atropelado por um carro.

Não era a primeira vez que isto acontecia. Teresa sabia o que aí vinha.

E agora, eu também.


Se calhar tenho uma chance… se enfiar os dedos nos olhos dele? Ou um murro no nariz? Talvez um punho cerrado vindo de baixo e direito ao queixo faça o truque.


Mas antes de poder elaborar algum plano, Francisco agarrou-me pelo colarinho e a cintura das calças e elevou-me acima da sua cabeça, como se eu não fosse mais do que um boneco de trapos. Num instante, arremessou-me com toda a força de encontro ao relvado. Cai de costas contra o chão e um esgar escapou-se da minha boca. A dor alastrava-se pelas costas e, por momentos, senti que não conseguia respirar.


Alguém, um desconhecido, ajudou-me a levantar, e, sentado, vi a Teresa agarrada ao braço de Francisco, entre lágrimas, propondo-lhe conversarem em privado.


Não precisas… não precisas de me proteger, Teresa.


-É só isso? Com esse tamanho todo e bates como uma menina.


Até falar me doía, mas pôs-me de pé e falei o mais alto que consegui.


Uma nova fúria tomou conta de Francisco. Pegando no braço de Teresa, desagarrou-a dele e marchou apressadamente até mim. Observei Teresa, ansiosamente a escrever algo no telemóvel. As pessoas à nossa volta mantiveram-se imóveis, provavelmente atentas à cena de ação a desenrolar-se à sua frente tal filme de cinema. Mas, algumas, notei, correram para longe de nós. E, uma ou duas, falavam freneticamente ao telemóvel, telefonando por auxílio.


-Estás mesmo a pedi-las.


Francisco lançou o seu braço na minha direção e, miraculosamente, fintei este. Um golpe de sorte, seguido de um tropeço nos meus próprios pés. Cai na relva, tornando-me na presa ideal para o Francisco, que, tal como se eu fosse uma formiga, levantou a perna para me pisar debaixo do seu peso. Com reflexos que não sabia ter, rebolei para o lado, mesmo a tempo de me salvar.


-Covarde!


Melhor covarde do que hospitalizado.


Tentei levantar-me, mas cambaleei quando a dor de costas me reclamou.

Acelerando o passo, Francisco levantou a perna mais uma vez, pronto para me atingir. Fechei os olhos e bloqueei a cara com os braços. Mas, o pontapé nunca chegou.


Um Francisco frenético recitou todos os palavrões que conhecia, preso por dois seguranças, um em cada lado.


-João, estás bem?!


Teresa ajoelhou-se ao meu lado, os seus olhos vermelhos.


-Estou bem.


Fisicamente.


-Mal posso acreditar que o Francisco te atacou! - A voz de Teresa ameaçava novas lágrimas. - E tudo por causa de mim. Desculpa, João…


-A culpa não é tua. - Tentei sorrir - E tu, estás bem?


As faces de Teresa tingiram-se de rosa e num tom baixinho respondeu-me que sim.


 

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Esta short story não é representativa do contéudo, temas e estilo de prosa do livro "Até Amanhã".

 

Copyright © 2023 Susana Paixão Rodrigues


Todos os direitos estão reservados e protegidos por lei. Nenhuma parte desta história e texto "João e Teresa, como tudo começou... (Parte I)",poderá ser reproduzida ou transmitida sob qualquer formato ou plataforma, em excepção de autorização prévia escrita e assinada por Susana Paixão Rodrigues.




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4 comentários

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Convidado:
21 de fev. de 2023
Avaliado com 5 de 5 estrelas.


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Convidado:
16 de fev. de 2023

Estou a gostar muito.

Depois de ler o livro o qual apreciei muito tanto na escrita como na historia e seu desenvolvimento é agradável ler o inicio da sua vida juntos.

Bem hajas continua a escrever.

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Convidado:
15 de fev. de 2023
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

Quando é que sai mais?

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Convidado:
21 de fev. de 2023
Respondendo a

Já saiu tudo.

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